Fabricantes de veículos e o governo federal projetam que o carro híbrido a etanol será uma das soluções para uma transição energética “à brasileira”. Eles defendem que com a utilização da métrica “do poço à roda” o híbrido tem pegada de carbono equivalente ou mesmo inferior ao elétrico.
O novo programa automotivo do governo, o Mover, estabeleceu a medição “do poço à roda”, que leva em consideração todas as emissões da produção, desde a extração e processamento às emissões oriundas do uso de cada combustível. A métrica tradicional, “do tanque à roda”, levava em conta somente esta última etapa.
Dados defendidos pelo governo e pelas montadoras mostram que, apesar de não emitirem com uso de combustíveis, os puramente elétricos deixam pegada na fabricação e recarga da bateria. Para produzi-las é necessário lítio, níquel, alumínio, entre outras substâncias, cuja mineração exige do meio ambiente, com emissão de carbono e geração de rejeitos.
Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcio Lima Leite, a “pressão pela descarbonização” ocorre no mundo inteiro. Na sua visão, contudo, as especificidades e sustentabilidade da matriz brasileira dá ao país a possibilidade de moldar as características de sua transição.
“O Brasil tem uma matriz energética limpa e conta com os biocombustíveis, que tem, em termos de descarbonização, quase a mesma eficiência — se não a mesma — dos elétricos. O carro elétrico também é uma alternativa fantástica. Mas os híbridos, com utilização dos biocombustíveis, são estratégicos para o Brasil”, defende.
Cerca de 55,2% da matriz energética brasileira é proveniente de fontes renováveis, enquanto ao redor do mundo fica em torno de 14,7%. Além disso, como destaca Marcio de Lima Leite, o Brasil conta com avanços na pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis, motores flex e agora veículos híbridos.
O secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços, Uallace Moreira, afirmou que o Mover foi desenvolvido para que dialogasse com outros projetos do governo, entre eles o Combustível do Futuro. Ainda em tramitação no Congresso, o programa traz medidas que favorecem a descarbonização dos combustíveis.
“Enquanto o mundo corre para avançar para alcançar metas de descarbonização com carro elétrico, o Brasil tem a prerrogativa de ter o etanol. E o carro híbrido, muitos estudo mostram, do poço à roda, emite menos que o carro elétrico”, reiterou o secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Para o conselheiro especial da BYD, Alexandre Baldy, as características do carro híbrido conversam com a transição brasileira neste momento — além de contar acolhimento pelo consumidor no país. Segundo o representante da montadora, líder neste mercado, contudo, o elétrico é aquele que converge para a “sustentabilidade e proteção do meio ambiente”.