Os sistemas de energia solar com baterias deverão provocar uma grande revolução no mercado brasileiro de GD (geração distribuída), segundo avaliação de Hélvio Guerra, diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Em entrevista exclusiva concedida à Revista Canal Solar, o executivo disse que os sistemas de armazenamento não só mitigam o problema da intermitência da fonte, como também possibilitam os usuários a absorver ou injetar energia de acordo com as necessidades do sistema, facilitando a operação e barateando a prestação do serviço para toda a sociedade.
Durante a conversa, o diretor da Agência também falou sobre outros temas relacionados à energia solar, como quais são, segundo ele, os principais desafios regulatórios da fonte, como a entidade enxerga o papel da geração própria de energia no contexto energético brasileiro e como as mudanças climáticas têm influenciado as diretrizes da ANEEL.
Confira abaixo alguns trechos da entrevista. Para conferir o conteúdo completo, basta baixar, gratuitamente, a Revista Canal Solar neste link.
Quais são os principais desafios regulatórios para a expansão da energia solar no país?
Para que a fonte solar continue tendo protagonismo no cenário energético nacional é preciso que ela seja sustentável do ponto de vista econômico.
Atualmente, a expansão dessa fonte é impulsionada através de subsídios tarifários, arcado pelos demais setores da sociedade.
Entretanto, conforme dados do Subsidiômetro da ANEEL, os subsídios tarifários representaram mais de R$ 40 bilhões em 2023, equivalendo, em média, a mais de 13% da tarifa paga pelos consumidores residenciais.
Considerando a necessidade de rever esse modelo, e que a geração solar atingiu um grau de maturidade satisfatório, é o momento de tornar essa fonte economicamente sustentável para que ela continue crescendo e trazendo benefícios.
A geração distribuída, em especial a solar, tem ganhado destaque. Como a ANEEL enxerga o papel dessa modalidade no contexto energético brasileiro?
A popularização da geração distribuída foi uma agradável surpresa que presenciamos no Brasil nos últimos anos. Sendo um país em desenvolvimento, é importante termos expansão contínua de nossa matriz energética.
E, nesse movimento, não podemos nos afastar da sustentabilidade ambiental e dos compromissos de descarbonização.
Mesmo sendo um país que já possuía uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, de 2001 a 2023 conseguimos quase triplicar a nossa capacidade de geração, aumentando ainda mais a participação de fontes renováveis e de baixo carbono.
É um feito inédito no mundo, um objetivo que diversos países buscam alcançar e que nós já fazemos no Brasil.
Nesse cenário, a geração distribuída tem um papel preponderante, pois garante essa expansão com fontes renováveis.
Segundo o Plano Decenal de Energia 2032, o crescimento da geração distribuída continuará em ótimos níveis, demonstrando a importância dessa modalidade de geração.
A tecnologia de armazenamento de energia, como baterias, tem se destacado. Como a ANEEL enxerga a integração desses sistemas com os projetos solares?
A popularização dos sistemas de armazenamento e a sua associação com sistemas solares provocará uma revolução tão grande quanto a que observamos com a geração distribuída.
Os sistemas de armazenamento mitigam o problema da intermitência da fonte solar, e, com os sinais econômicos adequados, os usuários poderão ser estimulados a absorver ou injetar energia de acordo com as necessidades sistêmicas, facilitando a operação e barateando a prestação do serviço para toda a sociedade.
Será uma relação ganha-ganha, em que os sistemas solares com armazenamento terão receitas adicionais provenientes de serviços ancilares, e o sistema terá custos menores de operação e expansão.
Para que isso ocorra, devemos garantir que as tarifas de energia elétrica sejam capazes de dar os sinais corretos.
A ANEEL já vem desenvolvendo estudos nesse sentido, e tem promovido sandboxes tarifários para testar configurações de tarifas mais aderentes a essa realidade que vem se desenhando.