A dinâmica atual de preços no Mercado Livre de Energia está gerando novas expectativas para os geradores e desenvolvedores de usinas. Projetos que anteriormente estavam parados começam a se tornar viáveis novamente à medida que os valores da energia se elevam no horizonte de longo prazo.
Há algum tempo, a expansão das fontes eólicas e solares tem ocorrido no Brasil graças aos contratos de longo prazo (PPAs) firmados entre geradores e grandes consumidores no Mercado Livre de Energia. Entretanto, com os preços mantendo-se nos níveis mínimos desde 2022, esse tipo de negociação perdeu força.
O cenário de preços da energia começou a mudar no final de 2023, antes mesmo do início do período úmido (novembro-abril). Naquela época, o reservatório da região Sudeste/Centro-Oeste, que concentra 70% das hidrelétricas do país, estava acima de 60%.
“Basicamente, todos os cenários possíveis dentro de uma análise estatística indicavam que esse reservatório terminaria o período úmido próximo em 80%, levando em consideração o histórico de recuperação. O mercado estava convencido de que o armazenamento no Sudeste alcançaria níveis confortáveis”, afirmou Vinícius Medeiros, Head Trader da Ecom Energia.
No entanto, a escassez de chuvas nos últimos meses nas principais bacias hidrográficas frustrou as expectativas dos agentes, resultando em um aumento do preço da energia. Atualmente, o país enfrenta um dos piores períodos úmidos de sua história.
“Prever esses eventos de cauda é muito difícil. O mercado foi surpreendido por esse verão sem chuvas relevantes. O armazenamento confortável que tínhamos anteriormente já não existe mais. Agora, estamos revisando nossos cenários e é bastante provável que o armazenamento no Sudeste termine o período úmido em torno de 68%, um valor muito abaixo do inicialmente esperado”, avaliou Medeiros.
Segundo Henrique Leme, sócio fundador da consultoria Decid, no início de 2023, os preços para os anos de 2024 a 2027 estavam em média entre R$ 85,00 e R$ 90,00 por MWh.
Atualmente, o preço da energia convencional (hidrelétrica e térmica) está sendo negociado por cerca de R$ 155,00 por MWh para os anos de 2025 a 2028. Já no caso da energia incentivada (eólica, solar, PCHs e biomassa), os valores subiram de R$ 111,00 por MWh para R$ 188,00 por MWh.
“Os preços de longo prazo estão começando a estimular um mercado que estava em espera, que é o mercado dos PPAs, o qual foi bastante prejudicado devido aos baixos preços. Ainda há muita incerteza sobre qual será o preço de longo prazo, mas o momento atual é mais favorável para uma expansão da geração. Todos estão atentos a isso para se prepararem para novas oportunidades”, disse Leme.
Para Medeiros, aspectos que estavam completamente fora do radar dos agentes estão novamente sendo considerados neste início de ano.
“No ano passado, com base na curva futura de preços, não era possível viabilizar nenhum projeto novo. No entanto, devido à frustração com o atual período úmido e ao novo patamar de preços, os agentes já estão realizando novas análises. Vemos um preço de energia incentivada chegando a R$ 180,00 por MWh a longo prazo. Dependendo do custo operacional e de investimento, esse preço já torna alguns PPAs viáveis”, disse o especialista da Ecom.
Para os consumidores que não estão familiarizados com o comportamento dos preços no Mercado Livre de Energia, não há motivo para preocupação. A negociação nesse ambiente continua vantajosa, embora o benefício tenha diminuído em comparação com 2023.
Segundo Medeiros, se no ano passado a diferença entre a tarifa e o preço no Mercado Livre chegava a 40%, atualmente os consumidores ainda podem reduzir significativamente suas contas de luz em pelo menos 25%.
Desde janeiro, o Mercado Livre de Energia está aberto para todos os consumidores do Grupo A, ou seja, aqueles conectados em média e alta tensão. Essa nova fase tem atraído milhares de empresas que buscam economizar em suas faturas de energia. Os chamados consumidores varejistas geralmente compram energia incentivada, o que também pressiona o preço deste produto.